Eu fui aquela alegre rapariga,
Que sonhava as estrelas e o luar.
Brotava-me da boca uma cantiga,
Mesmo que fosse para não chorar
Essa alegria fora loira espiga,
Na luz que se deixava revelar,
Sem sombra de quimera, eu que o diga,
Relíquia, que jamis soube guardar.
Hoje sou triste, já nem sei sorrir,
Criança não serei pra me iludir,
Que ramos murchos dêem nova flor.
Sou tronco já despido de folhagem
E, se recordo, amor, a tua imagem,
Acordo a noite a soluçar de dor.
(Menção Honrosa nos 1ºs Jogos Florais do Lavradio, 1988)
Maria José Alves Pereira da Silva (lado esquerdo) no Parque José Guilherme em Paredes, em junho de 1946, com a sua irmã Maria Isabel ao lado.
Palavra que é tão doce… tão suave…
Que significa tudo o que é melhor…
Pois nela existe apenas amor,
Dum coração aberto sem ter chave.
É como pluma terna duma ave.
Que irradia carinho e dá calor.
É quem afasta o sofrimento, a dor,
E é sobre o mar da vida a bela nave.
O seu sorriso, livra-nos do mal…
Minha Mãezinha, a quem eu tanto quero!
Ter Mãe é ter na vida o melhor bem.
É possuir na terra o ideal!…
Se ela faltar, p'ra quê desespero?!
Se a Mãe de Deus é minha Mãe também.
Maria José Alves Pereira da Silva - "Ilha dos Amores" 1961, pág. 68
Que saudades que eu sinto no meu peito,
Meu doce amor, - desde que estás ausente!...
- Meu coração dorido, insatisfeito,
Palpita noite e dia, tristemente!
Tu és, p'ra mim, o homem mais perfeito
Que existe neste mundo e, certamente,
Representas p'ra mim o ser eleito,
- O ser que eu hei-de amar eternamente!
Pensa em mim um pouquinho, por favor,
Lá longe, aonde estás, ó meu amor,
Que eu passo os dias todos a pensar
No teu breve regresso que eu desejo...
Aqui presente, terei mais ensejo
De livremente te poder amar!
Maria José Alves Pereira da Silva - "Ilha dos Amores" 1961, pág. 45
Podem morrer as rosas
Pelos canteiros,
No céu deixarem
De cintilar estrelas,
Secarem fontes
As searas e o mar;
Não haver horizontes;
Podem morrer as aves,
Findar a aurora,
A guerra
Nunca mais acabar...
E só desolação
Pelo mundo fora...
E não haver mais luz
No teu olhar...
E pode o sol
Deixar de ter calor,
Ser negra a noite,
Não mais haver luar,
Que jamais deixarei
De amar-te, meu amor...
Maria José Alves Pereira da Silva - "Labaredas em Prece" - 1964 pág 41
Sinto dentro do peito a despontar
O primeiro sintoma da paixão...
- O causador foi esse teu olhar
Que despertou assim o meu coração!
Ligada a ti fiquei, sem hesitar,
Lendo no teu olhar dedicação...
Quem poderia, enfim, por ti passar,
Sem reparar na tua sedução?!
Mãezinha! Tu não poderás zangar-te...
Eu sinto-me feliz, sabendo amar-te,
Embora ame, na vida, mais alguém!
És bondosa! -perdoas certamente...
Se quem é bom perdoa a toda a gente,
Perdoa, sempre, um coração de mãe!
Maria José Alves Pereira da Silva - "Ilha dos Amores" - pág. 16 - 1961
Maria José Alves Pereira da Silva na sua casa de praia na cidade de Espinho na década de 1980, onde se inspirou para a realização e inúmeros poemas, nomeadamente sonetos.
Nas suas costa a Praia Azul em pleno verão.